O ginecologista Arnold Kegel observou dezenas de casos semelhantes ao longo das primeiras décadas do século XX: depois do parto, muitas mulheres ficavam com incontinência urinária, tinham os músculos do canal vaginal flácidos e uma vida sexual pouco satisfatória. Para o norte-americano, a chave estava no pavimento pélvico, um grupo de músculos que se estende desde o cóccix até à parte posterior do osso púbico – uma espécie de rede que suporta a bexiga, os intestinos e, no caso das mulheres, o útero. O professor da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, começou então a sugerir que fizessem uma série de exercícios para fortalecer esta zona. Assim nasceram, na década de 1940, os chamados exercícios de Kegel, que atualmente são recomendados para prevenir e tratar problemas como a incontinência urinária e o prolapso genital, que consiste na perda de suporte dos órgãos vaginais e pélvicos.

Como são realizados os exercícios de Kegel?

Os exercícios de Kegel baseiam-se na contração e no relaxamento muscular do pavimento pélvico, normalmente em ciclos variáveis de cinco a dez segundos e em três posições diferentes: deitada, sentada e de pé. Podem ser feitos discretamente em qualquer local – enquanto está sentado à secretária, no sofá ou nos transportes públicos – e não exigem, por norma, qualquer equipamento, embora em alguns os casos se recomende o uso de um cone vaginal para a sua realização. O mais importante é saber localizar estes músculos. Para isso, a Mayo Clinic sugere que, numa ida à casa de banho, pare de urinar de repente: se conseguir, acabou de identificar a zona pretendida.

Os exercícios de Kegel são só para as mulheres?

Não, podem ser praticados por pessoas de ambos os sexos. A Urology Care Foundation, fundação da Associação Americana de Urologia, sugere inclusive técnicas de identificação do pavimento pélvico consoante o género: às mulheres recomenda que se deitem, coloquem um dedo na vagina e tentem apertá-lo com os músculos genitais; aos homens aconselha que, nus diante do espelho, tentem contrair o pavimento pélvico, mantendo o resto do corpo imóvel (o pénis deve retrair-se e o escroto levantar). Em algumas situações, é recomendada a consulta de um especialista para que se aprenda a fazer os exercícios de forma correta.

Quais são os benefícios?

Ao tonificarem os músculos do pavimento pélvico que envolvem a bexiga e os intestinos, os exercícios de Kegel favorecem um melhor controlo da uretra – canal que conduz a urina ao exterior. Contribuem, assim, para a prevenção e tratamento de problemas como a incontinência urinária e da bexiga hiperativa. Por outro lado, também favorecem o prazer sexual. De acordo com um estudo da Universidade Sapienza de Roma, publicado na revista científica Therapeutic Advances in Urology, ao fim de 12 semanas a fazer exercícios Kegel, os homens aumentam o tempo de ejaculação de 31 segundos até 246 segundos. O próprio Arnold Kegel constatou que, além de menos episódios de perda de urina, as suas pacientes relatavam uma vida sexual mais satisfatória, incluindo orgasmos pela primeira vez.

Em que situações são aconselhados?

O enfraquecimento do pavimento pélvico é uma consequência natural do envelhecimento, pelo que qualquer pessoa pode beneficiar dos exercícios de Kegel. Há, no entanto, situações que podem agravar a perda de tonicidade pélvica, incluindo a gravidez, o parto, o excesso de peso, a obstipação, a tosse crónica e alguns procedimentos cirúrgicos. Nestes casos, os exercícios de Kegel podem ajudar a reduzir o risco de incontinência urinária e fecal. No caso das mulheres, podem ser realizados, com cautela, como forma de prevenção de problemas derivados da gravidez ou do parto. Segundo a Mayo Clinic, são menos eficazes em mulheres com grandes perdas de urina ou com incontinência de urgência. Nos homens, podem ter um papel fundamental após a remoção da próstata (prostatectomia) ou em episódios de perda de urina após idas à casa de banho, quando a uretra não se esvazia completamente.

Com que frequência devem ser realizados?

Segundo a Urology Care Foundation, o ideal é que os exercícios façam parte da rotina, com um mínimo de 30 repetições, duas vezes por dia. Se seguir esta recomendação, deverá notar os primeiros resultados ao fim de seis semanas. Comece por fazê-los sentado e só depois enquanto se encontra de pé. Deverá estar concentrado, evitando mover outras zonas, como os músculos do estômago ou abdómen. Evite, também, suster a respiração.

30

Número de contrações dos músculos pélvicos que devem ser realizadas, duas vezes por dia

URO/2017/0035/PTc(1), JAN18