Imagine uma ferramenta que mede reações fisiológicas do corpo e, em tempo real, lhe mostra essas leituras, para que possa aprender a autorregular funções corporais que não está habituado a controlar. Por exemplo, o batimento cardíaco, a respiração ou a ativação de um certo grupo muscular. Esta ferramenta existe e chama-se biofeedback.

Controlamos com facilidade muitos dos nossos movimentos musculares, seja quando pomos um pé à frente do outro para andar, seja quando movemos a mão para pegar num objeto. Mas há grupos musculares que estamos pouco habituados a dominar de forma voluntária. Entre eles, o pavimento pélvico, o conjunto de músculos que funciona como estrutura de suporte a todos os órgãos da região abdominal inferior, como o útero, os intestinos e a bexiga.

Em conjunto com os músculos do esfíncter, são os músculos do pavimento pélvico que permitem o controlo do ato de urinar. Por isso, o reforço deste grupo muscular pode ser importante na reabilitação associada a várias disfunções urinárias, como a síndrome de bexiga hiperativa. Treinar estes músculos, reforçando-os, não é fácil porque não estamos habituados a ter consciência e controlo intencional sobre eles. É aqui que entra o biofeedback.

Ganhar consciência do corpo

O biofeedback “fornece uma resposta visual e/ou sonora durante o exercício, permitindo que o doente perceba e tenha consciência do seu corpo e musculatura”, explica Soraia Coelho, fisioterapeuta especialista em Reabilitação do Pavimento Pélvico. “Funciona usando uma pequena sonda vaginal (ou anal, se o doente for homem) ou elétrodos de superfície, em mulheres com hímen intacto e crianças. Essa sonda vai medir a tensão muscular e transmitir esses dados para um ecrã de computador, em forma de gráficos”.

A fisioterapeuta explica que a técnica pode ser uma das melhores escolhas para doentes que têm pouca ou nenhuma ‘sensação’ da musculatura do pavimento pélvico, permitindo-lhes identificar a musculatura correta que deve ser ativada durante o exercício. “O ensino correto das contrações pélvicas pode ser um dos tratamentos para os casos de bexiga hiperativa. Este ensino deve ser realizado sempre por um profissional de saúde qualificado, por exemplo, um fisioterapeuta com especialização em reabilitação pélvica e uroginecológica, e sempre com avaliação uroginecológica. Apenas verbalizar como deve ser realizada a contração não é de todo eficaz”, defende a fisioterapeuta.

Conquistar autonomia nos exercícios

Uma das grandes vantagens da técnica é não ter riscos nem contraindicações. Já o sucesso do tratamento e o número de sessões necessárias são variáveis: “Depende da capacidade contrátil e de relaxamento do doente, da compliance aos exercícios prescritos e da sua consciência corporal”, defende Soraia Coelho. “Só o biofeedback não resolve o problema da bexiga hiperativa, mas é uma ferramenta essencial para o tratamento.”

A Associação Americana de Urologistas considera o biofeedback como tratamento de primeira linha para a bexiga hiperativa, mas lembra que esta é uma terapêutica comportamental que, para ter sucesso, implica adesão do doente ao tratamento. Depois de aprender a contrair e relaxar os músculos do pavimento pélvico corretamente, em sessões orientadas por um fisioterapeuta, é necessário praticar diariamente os exercícios recomendados pelo profissional.

Por norma, é necessário um período de seis a oito semanas até se começar a notar os efeitos, da mesma forma que, quando começamos a ir ao ginásio, demoramos umas semanas até observar os efeitos do treino.

Em suma | Vantagens do biofeedback

1

Aumenta a consciência da atividade, reação e recuperação da contração muscular;

2

Para além do estímulo sensitivo da contração, apresenta um estímulo visual que facilita a aprendizagem de como se faz a contração corretamente;

3

Torna a aprendizagem destes procedimentos mais rápida;

4

É uma terapia eficaz e com perfil de segurança favorável.

Sabia que…

O biofeedback podem ser usado para outros fins, como a diminuição da ansiedade, das dores de cabeça ou da dor crónica. Há, além disso, o neurofeedback, que mede as ondas cerebrais através de eletroencefalograma e que pode ser usado como complemento no tratamento da Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção.