É uma opção de tratamento conservadora e não invasiva do campo da fisioterapia, geralmente bem tolerada, que tem demonstrado ser eficaz no controlo dos sintomas da bexiga hiperativa. A fisioterapeuta Soraia Coelho explica em que consiste a técnica de eletroestimulação do nervo tibial posterior.

O que é o nervo tibial posterior?

O nervo tibial posterior é a ramificação do nervo ciático. Nasce nas raízes medulares entre a vértebra L4 e a S3 e continua o seu percurso pela parte posterior da perna, até à zona do calcanhar, onde se divide e dá origem ao nervo plantar lateral e ao nervo plantar medial.

Em que consiste a eletroestimulação do nervo tibial posterior?

O estímulo do nervo é feito através de uma corrente elétrica com frequências específicas. “Os estudos demonstram que, ao estimular o nervo tibial posterior, ocorre uma diminuição da atividade do músculo detrusor, o que gera uma inibição da atividade da bexiga”, explica a fisioterapeuta Soraia Coelho. “Esta técnica tem como objetivo modular os estímulos que chegam à bexiga e é considerada uma forma periférica de estimulação sacral. O impulso elétrico, de forma retrógrada, através do nervo tibial posterior, atinge o plexo (rede de nervos ou de vasos) hipogástrico e chega até ao detrusor, diminuindo essas contrações. Com a diminuição das contrações, diminuímos a hiperatividade e a imperiosidade urinária”, esclarece a especialista.

Que tipo de estimulação pode ser feita?

O procedimento pode ser feito através de duas técnicas diferentes:

Eletroestimulação transcutânea | São colocados dois elétrodos de superfície, colados à pele, no trajeto do nervo. Um dos elétrodos é colocado entre 1 a 10 centímetros acima do maléolo medial e o outro no arco do pé.

Eletroestimulação percutânea | Um dos elétrodos, em forma de agulha, é colocado sob a pele, tendo mais incidência sobre o nervo.

Está indicado em todos os casos de bexiga hiperativa?

A técnica de electroestimulação do nervo tibial posterior é mais indicada nos casos de bexiga neurogénica.

Quais os riscos ou efeitos secundários possíveis?

A electroestimulação do nervo tibial posterior tem uma taxa baixa de efeitos secundários. No caso da estimulação percutânea, “o método pode ser incómodo e há a possibilidade de ocorrer interferência na proximidade dos nervos pélvicos, o que pode gerar uma sensação de latejar ou ardor. Mas estes efeitos adversos são incomuns, limitados a 1 a 2% dos doentes, e quando ocorrem não são graves”, explica a fisioterapeuta.

Há contraindicações?

De acordo com Soraia Coelho, a eletroestimulação do nervo tibial posterior está contraindicada em doentes com pacemaker, durante a gravidez, em casos de denervação completa do pavimento pélvico, pedras nos rins, cistite intersticial, história de anomalias cistoscópicas ou possível malignidade, diabetes mellitus e malformações anatómicas ou pós-traumáticas dos membros inferiores.

Qual o tempo estimado de tratamento?

Em média, cada tratamento consiste em uma a duas sessões por semana, durante o período mínimo de um mês. “A estimulação repetida de curta duração induz uma pós-estimulação persistente de efeito inibidor e aumenta a capacidade da bexiga”, explica a fisioterapeuta. No entanto, “a necessidade de repetidas sessões de estimulação, possivelmente por muito tempo ou ao longo da vida, é provavelmente a principal limitação da estimulação elétrica”.