A incapacidade ocasional de ter ou manter uma ereção é comum à maioria dos homens e não deve ser motivo de preocupação. Já a disfunção erétil (DE) é definida como a incapacidade constante ou recorrente em obter e manter uma rigidez peniana suficiente para manter o coito. E nesse caso, o homem deve procurar ajuda.

O problema não é uma raro: de acordo com o Estudo EPISEX-PT/Masculino: prevalência das disfunções sexuais masculinas em Portugal, de 2017, a prevalência entre os portugueses é de 12,9%. Embora possa afetar homens de todas as idades, a disfunção erétil afeta sobretudo o grupo acima dos 60 anos, como consequência do envelhecimento.

Na origem da disfunção erétil

A disfunção erétil já foi considerada uma questão exclusivamente psicológica, mas hoje sabe-se que não é assim. “Embora estudos diferentes apontem percentagens diferentes, em traços gerais, cerca de um terço dos casos têm origem psicológica, um terço origem física e outro terço causas mistas”, indica o urologista Manuel Ferreira Coelho.

A ereção peniana é um acontecimento neurovascular e o mecanismo fisiológico que a torna possível é complexo. “Tem de haver um estímulo que inicie o processo – neurogénico, psicogénico ou endócrino –, uma ação vascular para preencher de sangue os corpos cavernosos, uma ação de armazenamento do sangue no interior do pénis e a sua manutenção durante o coito”, explica o urologista.

Diagnóstico e problemas associados

O diagnóstico do tipo e gravidade de disfunção erétil começa sempre pela história clínica do doente. Importa avaliar a frequência dos sintomas, o contexto ou circunstâncias de vida que atravessa, alguns hábitos potencialmente nocivos e o estado geral de saúde. Nomeadamente, os níveis de tensão arterial e colesterol: “Tudo o que altere a elasticidade dos pequenos vasos – como a hipertensão, o colesterol, a diabetes, o consumo de tabaco e a obesidade – pode ser uma causa comum de disfunção erétil”, explica o urologista. Assim, a prevenção do problema passa pela adoção de estilos de vida saudáveis que evitem os fatores de risco.

Apesar de a disfunção erétil ser uma doença benigna, pode ser também o primeiro sintoma de um problema cardiovascular. As artérias do pénis, por serem mais estreitas, são as primeiras a ser afetadas e a apresentar bloqueios. “Quando há um problema nos pequenos vasos – que têm 2 milímetros de diâmetro –, isso antecipa um problema nas artérias coronárias – que têm cerca de 4 milímetros de diâmetro. Um problema que afeta os vasos mais estreitos pode passar a uma doença generalizada do organismo”, explica o urologista.

Prognóstico e formas de tratamento

“Uma pergunta-chave que costuma ajudar a perceber o prognóstico e a fazer a distinção entre quadros psicológicos ou físicos é se o homem continua a ter ereções espontâneas durante a noite, como é normal. Se tem, é sinal de que há capacidade física e o problema pode ser psicológico”, considera Manuel Ferreira Coelho.

Assim, após a recolha da história clínica do doente, quando não há sinais de alarme, a primeira abordagem do urologista costuma ser medicação. Se, com o medicamento, o homem conseguir obter uma ereção, é sinal que não há problemas físicos de maior. Se não conseguir, é necessário passar para outro patamar de investigação.

Tal pode ser feito através de um exame eco doppler, que permite avaliar o índice de resistência no interior da artéria. “A partir desse valor, temos um fator que nos indica se o doente ainda tem, ou não, capacidade erétil para responder a medicamentos orais”, explica o urologista. Se não existir capacidade de resposta a medicamentos orais, a solução pode ser uma de duas:

  • Usar uma bomba de vácuo. Trata-se de uma espécie de aspirador, com um anel constritor na base do pénis para manter a ereção. “É um sistema de que a maioria dos doentes não gosta muito e que pode, a longo prazo, provocar traumatismo na uretra”, revela o urologista.
  • Ponderar as hipóteses cirúrgicas, nomeadamente, a colocação de uma prótese peniana.


Disfunção erétil e bexiga hiperativa: que relação?

Alguns estudos indicam que há uma relação entre sintomas do trato urinário inferior (LUTS) e a prevalência de disfunções sexuais, como a disfunção erétil. Tal não significa que seja uma relação de causalidade: são problemas diferentes e, segundo se sabe, nenhum deles causa o outro.

“O que acontece é que nos homens, os LUTS têm origem sobretudo na obstrução da uretra pela próstata. Sintomas como acordar durante a noite para urinar têm um grande impacto na qualidade de vida. Se o homem tem uma má qualidade de sono e não descansa, não estará muito predisposto para a atividade sexual. Muitas vezes há uma sobreposição de várias patologias no grupo etário acima dos 50 anos”, explica o urologista.

Por outro lado, a medicação para controlo dos LUTS pode ter algum impacto na sexualidade, embora não especificamente na capacidade de ter uma ereção.

 

Tome nota

Se sofre de disfunção erétil, pergunte ao seu médico se deve consultar um cardiologista. Assim poderá despistar e reduzir o risco de problemas cardiovasculares.

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