Ao longo das últimas décadas, o mindfulness tornou-se um fenómeno de popularidade um pouco por todo o mundo. Mas, longe de ser uma invenção recente das sociedades ocidentais, esta é uma prática milenar budista. Também designada como psicologia da atenção plena, está associada à conquista de uma maior capacidade de foco e atenção. Entre os seus benefícios conta-se a redução da ansiedade e do stress, que são problemas comuns de quem sofre da síndrome de bexiga hiperativa e podem contribuir para a agravar.

Na prática

O termo mindfulness engloba tanto o estado psicológico de consciência plena do que nos rodeia, como as técnicas e práticas que ajudam a alcançar esse estado. A explicação é de Daphne Davis e Jeffrey Hayes, autores de um artigo sobre o tema para a revista Monitor on Psychology, da Associação Norte-Americana de Psicologia (APA).

A meditação é o exemplo mais comum destas técnicas, que podem incluir também, por exemplo, exercícios de respiração e música. Mas o percurso de quem quer encontrar a tranquilidade do mindfulness pode começar pelas pequenas atividades quotidianas. Por exemplo, ao tomar banho ou lavar a loiça, sinta a água em contacto com o seu corpo e concentre-se nas sensações do presente. De cada vez que a sua mente vagueia – para recordações ou planos futuros – esforce-se por manter a atenção no presente, na atividade que tem em mãos.

Alcançar a atenção plena requer treino. Um pouco como um ginásio para a mente, com uma meta concreta: um estado constante de atenção ao presente, aos estímulos que nos rodeiam, mas que não se perde em vagueações e mantém o foco.

Os benefícios do mindfulness

De acordo com Davis e Hayes, a investigação global sobre o tema tem identificado o potencial do mindfulness a vários níveis, nomeadamente:

  • Menor ansiedade e stress;
  • Menor vagueação e dispersão;
  • Melhor regulação emocional, com maior resistência ao impacto de estímulos e sensações negativas;
  • Desenvolvimento da memória operacional, responsável pelas tarefas quotidianas, como saber onde apanhar o autocarro ou reconhecer quem passa na rua;
  • Maior capacidade de atenção.

A mente no controlo da bexiga

Qual é a relação desta prática de mais de 2500 anos com os sintomas de problemas urinários? Trata-se de uma relação bastante estreita, já que o mindfulness e a meditação estão a ser adotados como uma terapêutica alternativa de autogestão em quadros de bexiga hiperativa. Seja como abordagem principal, seja como complemento de outras terapêuticas, o relaxamento da mente através de técnicas de mindulfness tem demonstrado resultados na gestão controlada do impulso constante de urinar.

Por exemplo, um estudo dinamizado por Jan Baker, investigadora da Escola de Medicina da Universidade do Utah (Estado Unidos) atestou o impacto do mindfulness num grupo reduzido de mulheres. A investigação comparou os efeitos do mindfulness com os do yoga e concluiu que o primeiro tem melhores resultados na redução da urgência urinária. A equipa quer agora prosseguir o estudo – com grupos maiores – para chegar a conclusões mais sólidas.

Mindfulness no alívio da bexiga hiperativa

O trabalho de Jan Baker e de outros autores tem contribuído para comprovar os benefícios do mindfulness na diminuição da urgência urinária, ansiedade e gestão dos sintomas associados a este tipo de doenças. Estas são as vantagens mais apontadas por quem estuda o tema:

  1. Redução da ansiedade relacionada com a urgência urinária

O potencial do mindfulness na redução do stress e da ansiedade pode permitir quebrar o ciclo vicioso da urgência urinária. Quem sofre de bexiga hiperativa vive com uma ansiedade gerada pela necessidade súbita de urinar, o que pode resultar numa urgência urinária ainda maior. Uma diminuição dos níveis de ansiedade possibilita a redução do stress e, consequentemente, acalma o impulso de urinar. Os efeitos positivos do mindfulness no alívio da ansiedade foram sublinhados, por exemplo, num estudo científico de 2010 liderado por Stefan Hofmann, da Universidade de Boston, citado pela APA.

  1. Maior capacidade de atenção, sem distrações

Com uma melhor atenção e foco, a mente tem menor tendência para vaguear. Desta forma, praticantes experientes de mindfulness ganham uma maior capacidade de se dedicarem mais afincadamente às tarefas que têm em mãos, realça uma investigação da Liverpool John Moores University, no Reino Unido. Esta capacidade de atenção redobrada ajuda a contrariar distrações e preocupações recorrentes com perdas de urina.

  1. Gestão emocional dos vários estímulos

Um estado de mindfulness permite estar-se consciente de tudo o que acontece internamente e no mundo exterior. Essa consciência é acompanhada de uma melhor gestão das reações aos estímulos existentes, indica a especialista Catherine Ortner, da Universidade de Toronto, na revista científica Motivation and Emotion. Assim, a vontade de urinar pode ser gerida com um maior controlo mental e distanciamento emocional.

 

Tome nota

O mindfulness pode ajudar a aliviar os sintomas da síndrome da bexiga hiperativa, complementando as formas de tratamento indicadas pelo seu médico.

 

URO/2017/0035/PTn, MAR18