O álcool que consome, os cigarros que fuma, os parceiros sexuais que teve, as perdas de urina esporádicas, a disfunção erétil. Estes são alguns assuntos que podem ser difíceis de abordar sem vergonha, mesmo quando o interlocutor é um médico. De facto, falar com o médico pode envolver superar alguns obstáculos interiores. Em 2004, o site americano WebMD fez um inquérito que mostrou que 45% das pessoas não dizem toda a verdade aos médicos. Entre os principais motivos estão o receio de se ser julgado (50%), considerar a verdade embaraçosa (31%) e achar que o médico não vai compreender (21%).

Os factos distorcidos ou omitidos têm um impacto prejudicial no diagnóstico e tratamento de um problema de saúde. Por isso, ao entrar no consultório de um médico, é importante ter em mente que está no contexto de uma relação profissional, que o médico não está ali para julgar, mas para ajudar. E que, para o ajudar com eficácia, nada pode ficar por contar.

Também ajuda lembrar-se que, naturalmente, não é o único com problemas que considera embaraçosos, que o médico já ouviu de tudo e dará uma resposta profissional às suas questões, sejam elas quais forem. Por fim, pense em si e no seu bem-estar: omitir sintomas ou preocupações, além de colocar barreiras a um diagnóstico atempado, vai fazer com que o seu problema fique sem solução e o mal-estar permaneça, mesmo depois da visita ao médico. Não corra riscos por vergonha.

Falar com o médico de forma eficaz

Além da necessidade óbvia de não omitir ou falsear informação, é importante saber como comunicar de forma a ser realmente ouvido. Porque, verdade seja dita, nem toda a responsabilidade é do doente: um estudo na Annals of Internal Medicine descobriu que apenas 23 por cento dos doentes consegue acabar a resposta à pergunta inicial ‘o que é que o traz aqui’. Alguns estudos referem que, em média, os doentes conseguem falar com o médico apenas 12 segundos antes de serem interrompidos. Outros apontam para 20 segundos.

Como a postura do médico se cria na relação e interação com o doente, é importante ser proativo e saber como comunicar com assertividade, para evitar deixar coisas por dizer. O departamento de Saúde da Universidade da Califórnia – São Francisco e o WebMD deixam algumas dicas para tornar isso possível.

Antes da consulta

  • Organize-se: sobretudo se tem uma doença crónica, tire notas de novos sintomas e alterações no seu quadro geral, com datas, e leve consigo os últimos exames.
  • Anote em papel – ou no memorando do telefone – as perguntas ou dúvidas que tem: é fácil esquecer perguntas se não as tiver listadas.
  • Anote e leve consigo os medicamentos que toma, com as respetivas doses e horários.
  • Vá à consulta acompanhado de alguém de confiança que o possa ajudar a clarificar dúvidas e a perceber corretamente tudo o que o médico transmite.

Durante a consulta

  • Faça todas as suas perguntas da sua lista.
  • Estabeleça prioridades: se tem vários sintomas, defina dois ou três assuntos mais importantes, evitando dispersar a conversa para outros temas. Isso vai ajudar o médico a dar resposta ao que é mais importante para si.
  • Tire notas de informações novas ou importantes.
  • Peça esclarecimentos adicionais sempre que não percebe ou fica com dúvidas.
  • Tente ser breve e conciso nas descrições que faz: por vezes, não adianta falar com o médico de coisas que aconteceram há anos. Importa focar-se no presente, mencionado o passado apenas quando é realmente relevante, por exemplo, para mencionar tratamentos que já fez para tentar resolver o problema atual.
  • Informe o médico se está a consultar outros especialistas ou a pensar procurar uma segunda opinião.
  • Ao falar com o médico, não hesite em usar palavras como pénis, vagina ou fezes. No entanto, também não se deve preocupar por usar a sua própria linguagem: o médico não precisa que comunique com ele em discurso científico, precisa apenas de o perceber.
  • Se achar que, por falta de tempo, não tem hipótese de abordar tudo o que é necessário, sugira deixar marcada uma consulta de seguimento.

Seja um doente inteligente

Há hoje uma geração de doentes de que deve tentar fazer parte: o smart patient ou ‘doente inteligente’. O conceito refere-se ao tipo de doente que não delega no médico toda a responsabilidade da sua própria saúde, mas antes a partilha como ele. Para ser este tipo de doente – o que se só lhe traz vantagens – deve:

  • Tentar aumentar a sua literacia em saúde, mantendo-se a par de notícias e estudos nesta área através dos meios de comunicação.
  • Ter muita atenção ao sítio onde recolhe informação: nem tudo o que está online é verdade ou correto. Procure sites de referência, com informação escrita por médicos ou com revisão científica.
  • Procure saber mais sobre a sua doença, seja online, seja conversando com outros doentes, seja fazendo parte de uma associação de doentes. Questione o médico em relação a informação obtida que lhe pareça relevante, como novos tratamentos ou ensaios clínicos.
  • Durante a consulta partilhe as suas preocupações, seja assertivo e esclareça todas as dúvidas: não se limite a acenar com a cabeça, ainda que não esteja a compreender bem.
  • Quando lhe propõem um tratamento ou terapêutica, questione o médico acerca das taxas de eficácia e dos potenciais efeitos secundários do que está a ser proposto.
  • Depois de esclarecidas as dúvidas, cumpra o esquema terapêutico prescrito e nunca se automedique.

 

Falar com o médico sobre…
Bexiga hiperativa

Conheça aqui os sintomas mais comuns e as informações que o médico lhe poderá pedir para fazer o diagnóstico de bexiga hiperativa.

 

URO/2017/0035/PTcy, OUT18

URO/2017/0035/PTCY, OUT18