Acordar de manhã com dores e uma sensação de rigidez e bloqueio das articulações, que depois melhora com o movimento, pode ser razão para marcar consulta com um reumatologista ou outro médico assistente. Este é um dos sintomas típicos da fase inicial da osteoartrose, a doença reumática mais prevalente na população portuguesa que, se não for tratada atempadamente, provoca uma degradação irreversível das estruturas articulares.

Até há poucos anos, as artroses eram consideradas – socialmente e pelos próprios médicos – uma fatalidade em relação à qual pouco se podia fazer. Hoje, esta perspetiva mudou. “Era vista como uma doença mecânica das articulações própria do envelhecimento, irreversível. Hoje sabe-se que o envelhecimento da cartilagem e a osteoartrose são coisas distintas”, explica o reumatologista Augusto Faustino.

Esta mudança foi muito importante. A compreensão dos mecanismos da doença permite uma intervenção que, nas fases iniciais, modifica a sua evolução e afasta as tradicionais consequências das fases mais avançadas: as dores persistentes, as deformações e um grande impacto na funcionalidade, com frequente incapacidade dos doentes para executar tarefas diárias básicas.

Adesão à terapêutica é essencial

Para travar a evolução da doença e as suas consequências é preciso intervir a tempo. “Sabemos que nas fases iniciais da doença predominam fatores inflamatórios. É esta inflamação que determina a presença dos sintomas, como a dor após um período de imobilidade. A inflamação é também o motor da destruição da articulação, que vemos nas fases mais avançadas”, explica o médico.

Assim, o ataque precoce à doença passa pelo controlo permanente da inflamação e, como tal, pela toma de anti-inflamatórios não-esteroides por períodos de tempo ajustados a este objetivo. E a adesão do doente a esta terapêutica é vital: é preciso que os doentes abandonem a postura, ainda muito frequente, de que ‘mais vale aguentar as dores, para não estar a tomar comprimidos todos os dias.’

“Para um doente que já tem uma artrose avançada, com lesão nas estruturas, tomar ou não medicamentos apenas influencia a sua qualidade de vida. Mas, nesta primeira fase, em que o processo inflamatório é reversível, não tomar a medicação significa deixar a doença progredir”, defende o reumatologista.

Uma questão de peso

Não há uma, mas várias artroses: a doença pode ter fenótipos – ou seja, formas de apresentação –  diferentes. “Pode ser, por exemplo, uma doença que só acomete uma articulação, em resultado de uma atividade profissional ou de um trauma, pode estar relacionada com uma má qualidade da cartilagem relacionada com predisposição genética, com um processo inflamatório sistémico que se exprime na cartilagem ou com uma forma metabólica relacionada com excesso de gordura sistémica”, exemplifica o médico.

Em função da sua origem, há abordagens diferentes para tentar controlar as artroses. Mas, independentemente da forma de apresentação e da fase da doença, há uma coisa importante em todos os casos: o controlo do peso. “O excesso de peso é um fator fundamental para a progressão da osteoartrose. Seja as que têm origem em fatores biomecânicos, por causa da sobrecarga da articulação; seja nas que têm origem num processo inflamatório sistémico, pela ação inflamatória de algumas moléculas relacionadas com a gordura, as adipocinas”, explica o reumatologista.

Esta é, de resto, uma das muitas razões pelas quais a abordagem ao doente deve ser multidisciplinar. “O doente deve ser olhado no seu todo. Sobretudo nas fases mais avançadas, a abordagem deve integrar o médico de família, um médico fisiatra que coordene a reabilitação, um fisioterapeuta e, se necessário, psiquiatra, psicólogo e nutricionista”, remata o médico. Importa envidar todos os esforços para a doença não progredir para a ‘morte’ da articulação, que culmina na necessidade de colocar uma prótese.

Alterar comportamentos 

Mesmo em fases mais avançadas, quando já houve destruição da articulação, há sempre muito a fazer, além da medicação que alivia os sintomas e da fisioterapia. “São importantes, sobretudo, as mudanças de comportamento permanentes, nomeadamente, que o doente cumpra um programa de exercício físico especialmente adaptado à sua condição e definido por um técnico dessa área.”

Além do exercício físico adequado e da perda de peso há outros hábitos que podem ajudar o doente na gestão diária da sua condição. A Mayo Clinic aponta os seguintes:

  • Siga uma dieta equilibrada

Alimentos ricos em vitamina C, especialmente frutas e vegetais, bem como em ácidos gordos ómega 3, como os peixes gordos (salmão, cavala, sardinha), podem ajudar a aliviar a dor.

Tente ir para a cama sempre à mesma hora e evite distrações com a televisão ou telemóvel. Se estiver desconfortável por causa das artroses, tente usar travesseiros para aliviar a pressão nas articulações. Caso durma mal sistematicamente fale com o seu médico.

  • Use compressas quentes ou frias

As compressas quentes podem aliviar a dor e a rigidez. As frias ajudam a reduzir a inflamação. Experimente ambas para perceber o que resulta melhor consigo.

  • Pondere a medicina complementar

Converse com o seu médico sobre a hipótese de tomar suplementos testados para o tratamento da artrite. Em alguns estudos o tratamento parece melhorar a dor. A acupuntura e as massagens também podem ajudar a aliviar a dor e a melhorar a função da articulação.

  • Recorra a ajudas técnicas

Considere o uso de talas, cintas ou dispositivos que suportam as articulações doridas. Pondere usar uma cadeira de banho, bem como outros produtos que possam ajudar a tornar a sua vida mais fácil (exemplo: abre-latas elétrico).

Procure rodear-se de pessoas com quem possa conversar e partilhar ideias, nomeadamente, em grupos de apoio. Faça os possíveis por se manter animado e fazer coisas de que gosta.

Artroses | Em suma:

  • Se sentir dores ou desconforto nas articulações, marque consulta no reumatologista ou médico assistente
  • Cumpra escrupulosamente a medicação prescrita
  • Perca peso, se o tiver em excesso
  • Se possível, rodeie-se de uma equipa multidisciplinar
  • Cumpra o plano de exercícios prescrito pelo fisiatra e/ou fisioterapeuta
  • Adote um estilo de vida saudável e adeque os seus hábitos à sua condição

 

> 20%

É a prevalência da osteoartrose na população portuguesa, segundo dados do Estudo Epidemiológico das Doenças Reumáticas em Portugal.

18%

É a proporção de reformas antecipadas e/ou baixas médicas cuja responsabilidade é atribuída à osteoartrose.

Sabia que…

A osteoartrose mais prevalente e mais importante em termos de incapacidade é a do joelho.

URO_2020_0095_PT, DEZ20