As capacidades de gestão, planeamento e antecipação são-nos muito úteis. Prever cenários e idealizar soluções permite-nos gerir as nossas vidas ocupadas, garantindo que todas as peças do puzzle encaixam no sítio certo. Ajuda-nos a definir prioridades, de forma a tomar melhores decisões. No entanto, esta bênção pode transformar-se em maldição quando somos incapazes de ‘desligar’. Muitas vezes sem nos apercebermos, passamos a viver nos nossos pensamentos e deixamos de conseguir aproveitar momentos de lazer, descanso ou diversão. Começamos a pensar demasiado e tornamo-nos reféns das preocupações.

Como saber se estou a pensar demasiado?

Ter frequentemente insónias por estar preocupado ou sentir que não consegue aproveitar o momento presente, por não conseguir parar de pensar num assunto. Estes são sinais de que pode estar a pensar demasiado, um comportamento típico de pessoas muito responsáveis, com traços de perfeccionismo, mas que pode conduzir a quadros de ansiedade. Isso mesmo mostra um estudo publicado no Journal of Rational-Emotive and Cognitive-Behavior Therapy, em 2002, por investigadores da York University e da University of British Columbia, ambas no Canadá.

Designados pela psicologia como pensamentos automáticos disfuncionais, são conhecidos de forma comum como ‘ruminantes’. Referem-se a assuntos ou situações que nos incomodam e invadem a mente sem que nos sintamos capazes de interromper o seu fluxo. Isto é, são automáticos e intrusivos. São também considerados tóxicos por comprometerem o bem-estar, impedindo-nos de desempenhar de forma adequada certas funções ou tarefas. Um exemplo típico é passar dias a reviver mentalmente uma discussão com alguém. Pensar em tudo o que se podia ter argumentado, imaginar o que o outro diria se tivéssemos dado outra resposta, repisar com mágoa uma frase que nos melindrou.

Quais são as consequências?

Quando nos fixamos nestes pensamentos obsessivos, não só não produzimos soluções, como exacerbamos o problema e consumimos imensa energia e recursos internos. É isso que defende, num artigo da revista científica Scientific American, a psicóloga Ellen Hendriksen, especialista do Boston University’s Center for Anxiety and Related Disorders. Como consequência, o sono acaba por ser afetado e a pessoa é tomada por uma sensação permanente de intranquilidade. Torna-se incapaz de se focar numa tarefa ou conversa real por estar a ‘ter outra conversa’ na sua cabeça, o que pode conduzir ao esgotamento físico e mental. Vários estudos concluem que, além de fomentar a ansiedade e o pessimismo, este hábito aumenta a vulnerabilidade à depressão.

Que soluções?

A boa notícia é que é possível deixar de pensar demais. Para treinar a capacidade de ‘desligar’ das preocupações, comece por seguir as dicas da psicoterapeuta Amy Morin, apontadas num artigo da Psychology Today. Esta especialista é autora do bestseller13 Things Mentally Strong People Don’t Do” (13 Coisas que as Pessoas Mentalmente Fortes Não Fazem – sem edição em português).

1. Consciencialize-se. Procure identificar os momentos em que está a pensar demasiado e a entrar num registo de pensamentos repetitivos e circulares. Reconheça que isso não é produtivo.

2. Desafie os seus pensamentos. Não se deixe levar por pensamentos negativos: reconheça que são exagerados, contrarie-os e relativize. Evite os erros de pensamento, tomando consciência de que pensamento e realidade não são a mesma coisa.

3. Foque-se na solução. Procure substituir o hábito de ter pensamentos circulares e passivos – por exemplo, sobre como algo aconteceu ou porque aconteceu – pela procura efetiva e ativa de soluções.

4. Programe o tempo para pensar. Incorpore 20 minutos de tempo de reflexão na sua agenda diária. Durante esses 20 minutos pode pensar, repensar, ruminar e repisar o que quiser. No fim do tempo, avance para algo produtivo.

5. Pratique a atenção plena. O mindfulness (atenção plena), enquanto técnica que o torna mais consciente do ‘aqui’ e do ‘agora’, ajuda a combater o pensamento excessivo e pouco produtivo.

6. Distraia-se. Pensar que tem de parar de pensar nem sempre ajuda. Se quiser interromper este ciclo é mais fácil procurar uma distração. Converse sobre outro assunto com um amigo, pratique desporto, entregue-se a algum projeto pessoal ou profissional que o absorva. Assim irá distrair a sua mente dos pensamentos ruminante ou negativos.

Tome nota

Se sente que as preocupações tomaram conta da sua vida e que não é capaz de mudar sozinho, não hesite em procurar ajuda profissional especializada.

URO/2017/0033/PTcq, MAR19