Duvidar das próprias capacidades, sentir necessidade de justificar constantemente as suas opções. Ter dificuldade em ir contra as opiniões de outras pessoas ou culpá-las pelas falhas próprias, estar sempre na defensiva. Estes são alguns sinais que psicólogos e investigadores apontam como reveladores de falta de confiança em si mesmo.

De acordo com os estudos de Albert Bandura, investigador da Universidade de Stanford que formulou a Teoria da Aprendizagem Social, a autoconfiança é a soma de dois fatores. Por um lado, a perceção de autoeficácia: em que medida nos vemos como capazes de realizar tarefas ou enfrentar situações e ser bem-sucedidos. Por outro, a autoestima, que se funda na avaliação que fazemos do nosso valor e do quão merecedores somos de coisas boas.

Sempre que enfrentamos as nossas dúvidas e medos e somos bem-sucedidos, reforçamos a confiança em nós próprios. Para conhecer algumas estratégias que promovem esta espiral positiva, continue a ler.

 

Treinar a confiança em si mesmo

 

  1. Olhar para as evidências 

Já todos tivemos dúvidas, medos e incertezas. Tenham sido eles sobre relações, sobre um novo emprego ou qualquer outra coisa. Uma forma de os superar é lembrarmo-nos do caminho que já percorremos, olhando para os factos. “As evidências confirmam que sobreviveu e avançou, mesmo quando duvidou de si mesmo”, lembra Steve Errey, coach especialista em confiança, ao ‘The Good Men Project’. Como o comportamento passado prediz o comportamento futuro, o mais provável é que continue a sobreviver e a avançar, por maiores que sejam as dúvidas.

“Mesmo se as inseguranças nos fazem sentir pequenos e entrar em pânico, quase sempre os factos suportam que somos melhores e maiores do que nunca”. Recorde todos os desafios que ultrapassou e dúvidas com que lidou – se conseguiu antes, é provável que também consiga agora. 

  1. Pensar nos ‘e se?’

O medo do desconhecido é um dos principais inimigos da autoconfiança. Seja na altura de fazer uma apresentação aos colegas de empresa ou de socializar com pessoas que não conhecemos numa festa, os ‘ses’ são a nossa principal preocupação. “E se me engasgo a falar?”, “e se me esqueço do que tenho para dizer?”.

Muitas vezes, o conselho que nos dão quanto a essas preocupações é simplesmente não pensar nelas. Mas Jeff Haden, autor do livro The Motivation Myth: How High Achievers Really Set Themselves Up to Win (sem edição em português), garante à Inc Magazine que a solução é a oposta: devemos pensar no pior que pode acontecer e criar um plano para lidar com isso. Sentir-nos-emos mais confiantes porque quando pensarmos “e se…”, poderemos responder de seguida “se isso acontecer eu faço/eu digo…”. Ao planear diferentes cenários, ficamos mais preparados para nos adaptarmos se o inesperado acontecer, logo sentimo-nos mais confiantes.

  1. Fingir até conseguir

Amy Cuddy, psicóloga social da Universidade de Harvard, apresenta na Ted Talk “A sua linguagem corporal pode moldar quem é” uma estratégia menos convencional. De acordo com a investigadora, a melhor forma de nos tornarmos autoconfiantes é fingirmos até conseguirmos. A sua pesquisa sugeriu que adotar as chamadas ‘posturas de poder’, em privado, durante dois ou três minutos antes de uma situação geradora de ansiedade, melhora a autoconfiança.

Uma das mais conhecidas posturas de poder é colocar-se direito, projetar o peito para fora, o queixo para a frente, fechar os punhos e esticar os braços para cima. Como vemos fazer, por exemplo, os vencedores de corridas quando cortam a linha da meta. Esta é uma postura que pode treinar em privado, por exemplo, antes de uma entrevista de emprego ou encontro amoroso. Ao adotar este tipo de postura, os níveis de testosterona aumentam e os de cortisol, a hormona do stress, diminuem.


Aprender a confiar nos outros

Falar de confiança é, também, falar da capacidade de confiarmos nos outros. E essa capacidade “envolve a justaposição das mais elevadas esperanças e aspirações de cada um, com as suas preocupações e medos mais profundos”. Que o explica é Jeff Simpson, investigador responsável pelo Laboratório de Interação Social do Universidade do Minnesota (EUA). Sendo que, para algumas pessoas, os benefícios da proximidade são ofuscados pela possibilidade de dor e traição.

A nossa capacidade de confiar nos outros relaciona-se, assim, com as nossas experiências anteriores, sejam positivas ou negativas. Muitas são construídas na infância, no período da vinculação, e podem deixar-nos mais ou menos predispostos a confiar nos outros.

O medo exagerado e crónico de confiar nos outros (pistantrofobia) afeta negativamente o bem-estar e as relações de quem o sente e superá-lo exige quase sempre ajuda especializada. Mas o autor e life coach Danny Baker aponta no Good Men Project algumas estratégias úteis:

  1. Não assuma que o futuro será igual ao passado

Não faça generalizações com base nas suas experiências passadas: não é justo assumir que, como alguém o traiu ou magoou, voltarão a fazer o mesmo. É importante deixar que cada um dos nossos relacionamentos comece como uma folha em branco, sem ser ‘envenenado’ pelo passado.

  1. Aprenda com os seus erros

O que poderia ter feito de forma diferente? Por vezes não confiamos no nosso instinto quando no indica que alguma coisa está errada com uma pessoa ou situação. Confiar nos outros também passa por saber que vamos identificar pessoas ou situações que não são dignas da nossa confiança e acreditar nos sinais de alerta.

  1. Dê a si mesmo tempo para recuperar

Depois de uma separação difícil, por exemplo, deixe a ferida sarar antes de se lançar numa nova relação. Iniciar um relacionamento quando não se está preparado pode levar a mais uma relação fracassada, aumentando a bagagem emocional negativa. Assim pode tornar-se cada vez mais difícil confiar nas pessoas e na possibilidade de tudo correr bem.

O objetivo a ter em mente é confiar em quem é digno de confiança e não confiar em quem não é. É isso que defende Onora O’Neill, filósofa inglesa na sua Ted Talk “What we don’t understand about trust”. “O que importa, em primeiro lugar, não é a confiança, mas a credibilidade: saber analisar quão dignas de confiança as pessoas são em certos aspetos. E esta análise exige que olhemos para três coisas: são competentes e responsáveis? são honestas? são confiáveis?”. Por exemplo, um amigo pode ser honesto e confiável, mas pouco responsável – muito esquecido, por exemplo – não sendo a melhor pessoa a quem pedir um favor.

URO/2017/0033/PThg, JAN19